Mesmo aqueles que andam em maior intimidade com Deus podem se desviar do propósito original de Deus e receber disciplina. Deus havia mandado que os apóstolos fossem até os confins da terra para levar o evangelho. Entretanto, em Atos 1.8, podemos ver como eles insistiam em permanecer em Jerusalém, por isso o Senhor permitiu a perseguição, e alguns até foram mortos.
Algo parecido também aconteceu com João Batista. Ele foi enviado para preparar a chegada de Cristo e, uma vez que Cristo iniciasse o seu ministério, ele deveria sair de cena, mas João não fez assim, por isso Deus permitiu que ele fosse decapitado.
1. Quem era João Batista
João Batista era realmente um homem de Deus. Ele foi separado por Deus para uma obra especial, e Jesus disse que ele foi o maior de todos os que viveram sob a velha aliança.
Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele. (Mt 11.11)
a. Era cheio do Espírito desde o ventre
Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno. (Lc 1.15)
Podemos dizer que João conhecia Jesus desde o ventre de sua mãe. Certa vez, quando sua mãe, Isabel, encontrou Maria, João Batista estremeceu no ventre (Lc 1.41).
b. Pertencia à linhagem de sacerdotes
Nos dias de Herodes, rei da Judeia, houve um sacerdote chamado Zacarias, do turno de Abias. Sua mulher era das filhas de Arão e se chamava Isabel. [...] Disse-lhe, porém, o anjo: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João. (Lc 1.5,13)
Sendo sacerdote, João Batista poderia usar vestes finíssimas e comer das ofertas, mas preferiu viver no deserto, vestir peles de camelo e comer gafanhotos e mel silvestre (Mt 3.4). Isso mostra sua forte disposição de fazer a vontade de Deus e rejeitar as coisas do mundo.
Usava João vestes de pelos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre. (Mt 3.4)
c. Era um nazireu
Veja o que era um nazireu, em Números 6.1-8.
Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte [...] (Lc 1.15)
Todo nazireu era consagrado desde o ventre ao Senhor.
d. Tinha uma posição de converter o povo de Israel
E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. (Lc 1.16)
João era fiel na proclamação da sua mensagem de arrependimento e batismo nas águas. Era um homem de Deus consciente do seu chamado e da sua mensagem (Jo 1.19-23).
e. Era humilde
Ele dizia ser indigno de desatar as correias das sandálias do Senhor Jesus. Dizia que era apenas uma voz clamando no deserto. Uma voz não é nada, é apenas um som, uma mensagem. Isso mostra que ele desejava que as pessoas prestassem atenção à mensagem, e não ao mensageiro.
E pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desatar-lhe as correias das sandálias. (Mc 1.7)
f. Era corajoso
João não temia os poderosos da nação, antes denunciava o pecado e a imoralidade.
Porque o mesmo Herodes, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe (porquanto Herodes se casara com ela), mandara prender a João e atá-lo no cárcere. Pois João lhe dizia: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão. (Mc 6.17-18)
g. Era verdadeiro
Todo o povo testemunhou que as palavras de João a respeito de Jesus eram verdadeiras.
E iam muitos ter com ele e diziam: Realmente, João não fez nenhum sinal, porém tudo quanto disse a respeito deste era verdade. (Jo 10.41)
h. Era respeitado
Até os seus inimigos o viam como justo e bom. João era alguém realmente irrepreensível.
Porque Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo [...] (Mc 6.20)
2. O seu declínio espiritual (vv. 22-30)
João era cheio do Espírito Santo e estava preparando a entrada do reino do Senhor Jesus, por isso ele deveria terminar quando o Senhor Jesus aparecesse.
a. João não parou de batizar quando Jesus começou
João fora enviado para preparar o caminho do Senhor e, para isso, ele batizava. O problema é que, quando Jesus começou a batizar, ele não parou; antes, continuou. Em João 3.26, os seus discípulos ficaram com ciúmes por Jesus também batizar, mostrando que o seu ministério estava concorrendo com o de Jesus.
b. João não soube a hora de parar
No verso 30, João mesmo diz:
Convém que ele [Jesus] cresça e que eu [João] diminua. (Jo 3.30)
Todavia, João continuou mantendo muitos seguidores e discípulos. Se João sabia que Jesus era o Messias, por que ele mesmo não seguiu a Jesus? Por que ele não mandava as multidões para Jesus? Tão importante quanto saber começar é perceber a hora de encerrar. Se continuamos algo que Deus já parou, corremos o risco de seguirmos sozinhos.
c. João encontrou tropeço em Jesus
Um pouco antes de morrer, João mandou alguns de seus discípulos perguntar ao Senhor Jesus se Ele era aquele a quem esperavam ou se viria outro.
E João, chamando dois deles, enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro? (Lc 7.18-20)
Depois de ouvir essa pergunta de João, o Senhor Jesus disse:
Bem-aventurado é aquele que não achar em mim tropeço. (Lc 7.23)
Isso nos mostra que João esperava um Messias conquistador e guerreiro, que pelejasse e vencesse os inimigos de Israel. Isso era natural, pois ele estava preso e provavelmente esperava que Jesus fizesse algo para livrá-lo. Como nada fez, ele chegou a pensar que Jesus ainda não era o Messias prometido.
No começo, ele teve revelação de que Jesus era o Cristo, mas por fim deixou-se levar pelo conceito natural, que esperava um messias político. Foi o próprio João quem disse de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Como agora chegou a duvidar se Cristo era mesmo o Messias? Uma coisa séria é quando ficamos decepcionados com Deus. Quando não concordamos com os caminhos de Deus. Essa é uma situação que pode nos levar a perder a cabeça, como aconteceu com João Batista.
No princípio, João tinha um coração voltado para o Senhor, mas depois ele olhou para o que tinha realizado e não quis avançar com o Senhor. Tinha os seus seguidores, os seus próprios discípulos e andava no seu próprio caminho.
É possível que tudo isso aconteça conosco. Podemos ser alguém chamado e separado por Deus, mas podemos não perceber o momento de passar o cajado e encerrar nosso trabalho, seja numa igreja, seja numa cidade ou mesmo em nossa vida. E podemos ainda ser alguém que não compreende os caminhos de Deus e fica decepcionado com Ele no meio do caminho. Devemos ser um daqueles que beijam a mão que os disciplina.
Fonte: 21 Dias com João — Pr. Aluízio Silva
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