Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã (inútil); antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo. (1Co 15.9,10)
Se podemos dizer que alguém foi transformado, esse foi Paulo. O que eu gosto da experiência de Paulo é que as revelações que teve não fizeram dele uma pessoa mística, contemplativa e passiva, mas uma pessoa dinâmica, trabalhadora e extremamente ativa. É muita graça de Deus poder ser útil em suas mãos. O apóstolo Paulo sabia disso, então resolveu pagar o preço como forma de gratidão por tudo que o seu Senhor havia feito por ele. O fato de ser usado por Deus não é um acidente.
A vontade soberana de Deus é que faz com que possamos ser usados por Ele hoje. Em relação a Deus, somos filhos; mas, em relação a Cristo, somos servos. Como filhos, estamos aqui para cuidar dos pertences do Pai; e, como servos, nosso trabalho é, acima de tudo, servir aos irmãos, ajudando-os a crescer para ocuparem seu lugar na família, filhos capacitados para herdar a herança do Pai. Todo aquele que foi salvo está na posição de ser usado por Deus. Todavia, a nossa utilidade para Deus se confirma quando temos clareza do nosso chamado.
1. A responsabilidade de pagar o preço
A parte de Deus é nos chamar, no entanto nós temos a responsabilidade de pagar o preço. No decorrer da história, todo homem de Deus teve de pagar o preço para servir ao Senhor. Sei que alguns questionam dizendo que hoje estamos no tempo da graça e não existe tal coisa como pagar o preço. Mas isso é um equívoco. Na verdade, não temos de cumprir nenhuma condição para sermos salvos, a não ser crer no Senhor. Mas, para servir a Deus, a situação é diferente. Nesse caso, sempre temos um preço a pagar.
Uma vez que Paulo estava disposto a pagar o preço, Deus pôde usá-lo grandemente (At 9.5,6; 10-17). A nossa utilidade para o Senhor depende completamente de nossa disposição de pagar o preço. Paulo pagou um preço maior que os outros, por isso sua utilidade também foi maior. Esse preço que temos de pagar depois de responder ao chamamento do Senhor não tem limites. Vamos continuar pagando um preço por toda a nossa vida. Ninguém pode dizer que já pagou todo o preço e não tem mais nada a pagar.
2. Por que precisamos pagar o preço?
Pagar o preço é a forma de o Senhor nos libertar da rebelião. Mesmo depois de convertidos, a rebelião ainda se esconde em nosso coração, mas quando nos dispomos a pagar o preço, nós a subjugamos. Isso fala de decisão, a decisão de estar ao lado d'Ele nesse propósito. Pagar o preço é também uma forma de vencermos o orgulho e a arrogância. Normalmente, no preço exigido, existe alguma forma de o Senhor nos humilhar e nos quebrar. Pagar o preço envolve sempre aprender a depender de Deus. Ele deseja nos usar, mas somente podemos ser úteis se não dependermos de nossa própria força.
Quero apresentar cinco tipos de preços a serem pagos.
a) O preço da revelação
Quando o Senhor falou com Moisés, Ele disse: “Sobe para cá! ” O Senhor podia falar com Moisés lá embaixo, mas disse: “Sobe para cá!” O Senhor podia mandar que um anjo o buscasse num carro de fogo, ou poderia fazer com que Moisés voasse até Ele, mas mandou que Moisés subisse (Êx 24.12). Isso é um exemplo da necessidade de pagar o preço. Se Moisés desejava ouvir de Deus, ele precisava subir a montanha. Esse princípio permanece. O subir a montanha está sempre relacionado com a revelação do Senhor. O Senhor levou os seus discípulos ao monte para revelar-lhes a constituição do reino e depois para se revelar em glória (Mt 5; 17). Subir a montanha é simplesmente pagar o preço. Quando pagamos o preço para servir ao Senhor, sempre recebemos uma revelação d'Ele.
b) O preço para seguir Jesus
O chamamento do Senhor não é para que as pessoas sejam salvas, mas, acima de tudo, para que o sigam (Mt 4.19). Primeiro, o Senhor nos chama para segui-lo. A transformação da alma tem este objetivo, seguir o Senhor. Quem não experimentou a transformação não responde a esse chamado. O preço é sempre renunciar tudo. Precisamos nos dispor a pagar o preço enquanto somos jovens, porque o preço vai ficando mais caro com o passar do tempo, à medida que envelhecemos. Ele quer que renunciemos tudo. Toda vez que tocamos no Senhor, Ele nos exige alguma coisa. Só não sentimos a necessidade de pagar o preço quando não temos comunhão com Ele.
c) O preço da renúncia
Em Filipenses 3, Paulo não usa a palavra preço, mas ele diz que perdeu tudo para ganhar Cristo. Paulo descobriu que, para ganhar, ele precisava perder. O perder a que ele se referiu é renunciar a nossa teologia, doutrina, eloquência, conhecimento e experiência em troca de Cristo. Ele abriu mão de todos os seus tesouros para ganhar os tesouros de Cristo. O preço mencionado nos evangelhos é o preço dos estágios iniciais da vida cristã, mas o preço mencionado por Paulo aponta para algo mais caro e mais profundo.
d) O preço da humildade
Apocalipse 3.18 nos mostra claramente que existe um preço a ser pago pela humildade. Humildade é não pensar de si além do que convém. Este era o problema da igreja de Laodiceia. O Senhor diz que precisamos comprar três coisas: o ouro refinado pelo fogo, as vestiduras brancas e o colírio. O ouro aponta para a natureza de Deus, significa que Ele é o originador de todas as coisas. A humildade quer dizer que tudo o que somos, fazemos ou temos vem d'Ele. As vestes brancas nos falam de pureza, ou seja, uma vida sem mistura. Não podemos misturar a graça com a lei. O colírio é para nos curar da cegueira espiritual. Se desejamos ver com clareza nossa realidade, temos de pagar o preço do “colírio celestial”.
e) O preço de pertencer a uma família
Existem alguns pontos práticos que mostram como devemos pagar o preço na vida da igreja:
Não servir de forma religiosa - Se servimos apenas quando estamos à frente de uma reunião, isso mostra que somos religiosos. O verdadeiro serviço acontece em todas as áreas da vida diária.
Obedecer ao mais velho - Na Palavra de Deus, os mais jovens devem ser submissos aos mais velhos (1Pe 5.5).
Cuidar dos irmãos - O bom servo é aquele que está disposto a pagar o preço de cuidar dos irmãos (Mt 24.45,46).
3. O objetivo do preço
O objetivo de pagar o preço é nos libertar de todas as coisas para termos mais de Cristo. Se nos apegamos a algo, enchemo-nos de coisas terrenas e consequentemente recebemos menos de Cristo. O significado de pagar o preço é permitir que o Senhor nos encha d'Ele sem qualquer empecilho ou dificuldade. Veja o exemplo do jovem rico. Ele foi embora triste porque não queria abrir mão de seus bens. A sua riqueza enchia a sua vida e não havia espaço para o Senhor. Assim, para ser cheio do Senhor, ele precisava renunciar ao dinheiro. Quando pagamos o preço, nós recebemos mais de Cristo. Dessa forma, não é realmente o preço que nos qualifica para entrar no reino, mas o quanto de Cristo nós recebemos quando pagamos o preço.
Palavra editada retirada do livro De Jacó a Israel
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