A primeira coisa que devemos entender sobre disciplina é o significado da palavra. Muitos entendem disciplina apenas como correção, mas ela é mais do que isso. A definição de disciplina nos dicionários tem mais de um significado. Vamos, então, mencionar quatro deles e comentar como aplicá-los na criação dos filhos.
1. Disciplinar é treinar
Provérbios 22.6 diz: “Ensina à criança o caminho em que ela deve andar, e ainda quando for velho não se desviara dele”. A palavra “ensina” significa “ficar atrás dela continuamente”.
Ficar atrás dela significa uma tarefa diária, constante, em que você terá que repetir a informação até que a criança tenha maturidade para praticá-la sozinha. Não basta dizer uma única vez ao seu filho que ele precisa lavar as mãos antes de comer, você terá de lembrá-lo algumas vezes, até que ele adquira o hábito.
Alguns pais acham que falar uma vez é o suficiente para a criança aprender, mas basta olhar para si e perceber como você mesmo aprende as coisas: você aprendeu tabuada na primeira vez que ouviu? Imagino que não, a menos que você seja um gênio. O fato é que aprendizado exige repetição, e a repetição exige disciplina. Se, em treinamentos normais de trabalho, você precisa ouvir a mesma informação até guardá-la, por que seria diferente na educação dos filhos, em se tratando de crianças?
Quando a Bíblia diz que devemos ensinar uma criança, isso significa um treinamento contínuo. Portanto, a disciplina acontece quando existe o treinamento continuado naquilo que você quer alcançar. Educar é, pois, treinar. É assim que a criança se educa. Por exemplo, se você quer ver seus filhos dormindo cedo, você precisa colocá-los para dormir todos os dias no mesmo horário, mesmo que eles não queiram fazer isso. É bom lembrar que treinamento exige disciplina de quem recebe e também de quem aplica. O problema da falta de disciplina é a falta de continuidade, muitos começam, mas não dão continuidade ao treinamento, assim os resultados nunca aparecem. Se um dia você põe seu filho para dormir cedo e no outro você permite que ele durma tarde, ele não vai adquirir o hábito de dormir cedo.
Ao exercer esse treinamento, é preciso considerar que cada criança em cada família é única e diferente, cada uma vai exigir de você uma intensidade na disciplina. Cada pessoa apresenta reações diferentes a um mesmo treinamento, mas o alvo é educar todos. Todos precisam de treinamento.
Guarde isto: uma criança disciplinada é uma criança educada. Portanto, deixar de disciplinar é deixar de educar.
2. Disciplinar é instruir
Com certeza, os pais vão instruir seus filhos a respeito de muitas coisas. Comece instruindo-os a serem obedientes, pois é assim que a Bíblia nos orienta, porque uma criança obediente é uma criança protegida.
Essa obediência deve estar associada às regras da família. Em uma casa que não tem regras claras para os membros da família, fica difícil manter a disciplina. Portanto, comece a educar e instruir os seus filhos estabelecendo as regras do lar.
É muito comum as crianças argumentarem que o filho do vizinho não precisa fazer nada do que ele tem que fazer. Nesse caso, apenas diga que eles têm as regras deles e vocês têm as suas próprias regras. E é assim que tem que ser. Uma mãe de uma criança de quatro anos contou que sua filhinha estava resistindo muito a aprender a obedecer, até que um dia a mãe disse: “Minha filha, você não vai fazer isso e ponto final”. Ela perguntou: “Mas por quê?”. A mãe disse: “Porque eu mando em você, e você tem que me obedecer!” A criança pensou um pouco e perguntou: “Até quando vai ser assim?”
Veja, a criança já tem dentro de si uma predisposição para a obstinação. Essa criança com apenas quatro anos já estava pensando em quando ela seria dona de si mesma. Isso mostra como a obediência é proteção, pois a Bíblia afirma que: “A criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe”.
Mas, lembre-se, a melhor instrução é o exemplo. Não entre pelo caminho de alguns que dizem: “Faça o que eu falo, mas não o que eu faço”. Pais precisam ensinar e praticar o que ensinam.
Certa vez, um peixe procurou um professor de natação para ensinar o seu filho a nadar direito, pois o peixinho nadava torto e isso incomodava o pai. A primeira coisa que o professor fez foi pedir ao pai que nadasse junto com seu filho. Qual não foi a surpresa! Os dois nadavam torto.
3. Disciplinar é controlar
Você sabe se está praticando a disciplina se seu filho estiver sob controle. E como você sabe que ele está sob controle? Quando ele lhe obedece. Se ele é obediente, ele está sob controle. Se você leva o seu filho à casa de alguém e ele sabe se comportar, ele é alguém sob controle.
Certa vez, recebemos uma família para jantar em nossa casa. Nessa época, nossas filhas eram pequenas, então ensinamos a elas como iriam se comportar diante das visitas. Mas não sabíamos que o casal tinha também dois filhos pequenos. Durante o jantar, o filho caçula mostrou seu temperamento: ele se serviu sozinho e, é claro, sujou toda a mesa, jogou comida no chão, pegou a faca para cortar a carne e quase se feriu, puxou a toalha da mesa e derrubou alguns talheres e, enquanto os pais tentavam controlá-lo, ele quebrou o copo de vidro no dente. Como você pode imaginar, o nosso jantar não chegou à sobremesa, porque tivemos que socorrer a criança.
Lembre-se: antes do controlar, vem o instruir. Se você instruir seus filhos sobre o que devem e o que não devem fazer, ficará mais fácil controlá-los. As instruções incluem também as consequências. A criança precisa saber o que vai acontecer se ela quebrar as regras ou ignorar o que foi ensinado. Essas instruções devem ser dadas em casa, elas fazem parte do dia a dia da criança. Assim, quando sair com seus filhos, você poderá controlá-los falando uma única vez, ou apenas com um olhar.
Quando eu era criança — éramos sete filhos —, era comum visitarmos os parentes nas fazendas no fim de semana, mas minha mãe sempre nos lembrava de algumas regras, e uma delas era não comer nada sem autorização. Então, quando chegávamos, íamos todos nos sentar na sala ou na varanda. Enquanto minha mãe não autorizava, ninguém se servia ou levantava para ir ao quintal, onde normalmente era muito interessante. Sabe como ela nos dava o sinal de que podíamos comer o que era servido na mesa ou sair para brincar? Com um olhar. Dependendo do olhar, ninguém se mexia. Como ela conseguia controlar sete crianças assim? Isso se chama autoridade. Quem tem autoridade tem o controle da situação.
4. Disciplinar é corrigir
Disciplina é também correção. Aqui chegamos ao quarto ponto. Veja, a disciplina começou com o treinamento, com a instrução, com o controle, e atinge o seu ápice na correção. É quando a criança ignora tudo o que veio anteriormente.
Uma mãe pode agir de duas maneiras: ela pode ignorar a disciplina e deixar seu filho fazer o que quiser, ou ela pode tentar conseguir tudo com uma vara na mão. Ambas estão erradas, porque nenhuma delas vai produzir o fruto bom da disciplina, que é uma criança bem-educada.
Há algumas regras sobre correção que vale a pena comentar aqui. Primeiro, o excesso ou a falta de disciplina leva ao mesmo resultado: desânimo. Quando a disciplina não é aplicada corretamente, o desânimo se instala dos dois lados, os pais ficam desanimados com a educação dos filhos, e os filhos também. Em Colossenses 3.21, lemos: “Pais, não irriteis a vossos filhos, para que não fiquem desanimados”.
Entra aqui o ingrediente mais importante para exercer a disciplina em forma de correção: o amor.
Correção e amor
Quando você aplica uma correção na hora que está com raiva, você está apenas castigando, e não corrigindo. Corrigir com amor é colocar o foco no resultado, é fortalecer os valores. Por exemplo, se você corrige seu filho porque ele mentiu que fez a tarefa, você está buscando formar o caráter dele, o alvo é que ele aprenda que mentir é errado. Essa correção é motivada pelo amor. No entanto, quando você corrige o seu filho porque ele pisou na cozinha com o pé sujo e imediatamente você grita com ele e lhe dá umas palmadas, sua correção visa apenas mudar o comportamento e é motivada somente pela raiva.
Correção exige perseverança
O problema da falta de resultado na disciplina é justamente a falta de perseverança. Quando você usa a correção para coisas superficiais e não a usa para coisas importantes, fica difícil ser perseverante. Usando o exemplo acima, você vai continuar batendo no seu filho toda vez que ele entrar com o pé sujo em casa? E você vai corrigi-lo toda vez que ele mentir? A primeira resposta deveria ser “não”, mas a segunda deveria ser “sim”.
Perseverar em corrigir significa que aquilo que é errado hoje continua sendo errado amanhã. Portanto, decida aplicar disciplina em coisas de fato importantes, pois você terá que perseverar nela, do contrário, a disciplina não trará resultados. Perseverar significa que você terá muitas vezes que abrir mão da televisão, do computador e de outras coisas que estiver fazendo para corrigir seu filho. Para isso, entenda que nada é mais importante do que a disciplina dos seus filhos. Essas outras coisas não vão afetar a sua vida, a disciplina deles vai, pois a vida inteira deles depende disso.
Fonte: Apostila de Criação de Filhos — Pra. Márcia Silva
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